Entregar-me ao tempo
Esperar o tempo
Este que em minha vida
Nunca teve vez
De quem sempre corri atrás
Sempre mais...
Mais rápido que ele
Sempre atrás
Do que ele leva
Do que ele faz
Entregar-me ao tempo
A quem sou sujeita
Por quem fui feita
Muitos contratempos
Nunca um camarada
Sempre adversário
Enfrentamentos diários
Neles fui lapidada
Quando muito apressada
Contei: 1, 2, 3.
Nunca até 10
Agora até 100
Até sem motivo
Até sem vontade
Até por coragem
Até 100
Até mais que isso
Na pressa, um sumiço
Entregar-me ao tempo
A quem sou sujeita
Por quem fui feita
Que tem me feito bem
Não quero controle
Tampouco tê-lo, tempo.
Toma conta de mim, tempo
Toma conta de mim
Em hora certa, a contento
Tudo terá começo
Terá tudo seu fim
Insistindo em ganhar
Tenho perdido tempo
Isso é virtude ou defeito?
Pois por mim nunca feito
Desafiado, atravessado
Segue, maculado
Não se importa com manchas
Tudo que faço
Sem esperar o tempo
O tempo vem e desmancha
Fiz esse poema sem tempo
Sem medo de parecer ridÃcula
Sem medo de assumir as culpas
Fiz hora ao respirar palavras
Que virão a seu tempo
Fazer sentido aqui dentro
Do meu peito
Precisando de tempo
Para ser refeito
Para isso é preciso coragem
Ninguém sabe as viagens
Que o tempo elabora
E por isso controlo
Nessa vontade moro
De fazer e ter o que quero
Mas fazendo triagem
Do meu caminho agora
Vejo sem vertigem:
O tempo não é personagem
É narrador da história.