top of page
  • Foto do escritorJuliana da Paz

Ensaio sobre o tempo

O que eu sou, afinal... um monte de textos, agendas, calendários... horários, oportunidades perdidas anotadas em post its espalhados pela parede.

Meu ciclos atemporais são feitos de sentidos. Eu sinto seu cheiro e estou consigo. Agora. Eu meço o tempo de ficar longe em arrepios, em contrações de dor. Mas o trem do tempo não quer saber de medidas minhas. Ele está correto! Ele tem compasso e sabe dançar. Eu contrario Descartes e a modernidade e nem mesmo existo, pois meço o tempo em sentidos. Fico com o chicletes na boca até que sinta o doce, resisto ao frio até não sentir dor na espinha, me distancio até sentir sua presença etérea ou não, me mantenho por perto até sentir que não caibo mais.

Mas, cartesianamente, seguindo meus sentidos, os ciclos e desencontros se repetem entre nós. Era a primeira, penso que sim, nessa existência de agora, vejo como a vez primeira. Eu lhe senti muito perto, eu lhe sonhei, eu lhe busquei, mandei carta, chamei. Com reposta positiva a todos os meus desejos você veio. Era feito de impedimentos e vontade, de realidade dura e mãos macias, de histórias ruins e poesia, de tempo que quis entregar a mim seu querer e sentir sem hesitação, mas era só. Eu senti que era pouco, eu olhei para longe, você estava lá. Não me acompanhava, não desejava alcançar, não conseguia enxergar a ponte onde levava minha mirada.

E eu nem bem sei do que falo, eu só sei o que senti: um desespero e corri! Me encontrou muito rápida passando, dando voltas em você. Me viu indo embora e me disse incrível, impossível de chegar. Ela voa! Eu estou muito atrás de seu tempo… que fazer? Deixa ser…

E lá se foi o primeiro ciclo, mas o sentido não se desfazia, eu rapidamente encontrei outro lugar no ventre de seus sentimentos, eu fiquei por ali, nunca morri e demorei 9 luas pra nascer outra vez.

Ruminei duas ou três noites sua ausência e já me despreparava novamente a lhe procurar, segundo ciclo a repetir, a desdobrar nossos descompassados caminhos paralelos que jamais se cruzam. Já nos alcançamos aos berros, nos gritamos, ensaiamos ódio, para nos despedirmos em dor, dessa vez sem nos despirmos em peles, mas a localizarmo-nos em pólos que nos vestiam de culpa... Os distanciamentos, os nãos em variados tons, eu sentia que era o maior tempo da minha vida dedicado a aprender com alguém a como se perder. Eu me perdi sem sombra dúvida. Tudo era luz e quentura, tudo era a dor da perda. Eu sei perder, mas não sei desistir do sentido que tudo isso ainda tem.


Eu aprendi a perder, mas o tempo não me ensinou a esperar. E fui andando sem parar, não sei contemplar o trabalho do tempo… vai ver por isso Ele despreze meu sentir, minhas manias de prazer no meio do trabalho. Vai ver que eu não o vejo brincar comigo mudando as ordens dos acontecimentos, vigilante a desorganizar meus planos apressados, quantas lições de esperar o tempo vai esperar pra eu aprender?

Terça parte da história: esse ciclo que desmancha... estou a esperar se é valsa, esse terceto, essa linda música que corrói o sentido de tudo, esse dulçor que se finda no chicletes, esse arrepio cada vez mais raro na espinha... essa falta de lugar pro encontro, o coração ainda aperta, mas, no mais, o que mais resta? Não há tempo que desista de bater em pedra dura? Este ciclo até quando perdura? Eu tanto corri em meu desespero, que fiz morada em outras vidas, eu construí outras de mim, eu sempre faço isso com medo que todas elas acabem e eu não tenha com quem contar. Eu aprendi a esperar com o coração doendo, e desta vez, não sei o porquê estou vendo de onde seus olhos veem... não é só mais tempo, esse torvelinho que lhe trouxe de volta sem fim aos meus olhos sem tato, é o espaço, me desloco. Sob seu olhar, o que sinto? É tempo finito?

Aprendi a jogar no mundo. Já que sei perder, esperar os aprendizados, contemplo o trabalho do tempo que não há para nós. Dele que nos afasta, nos mostra que toda vez sempre foi cedo ou tarde demais. E agora?


25 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

MAIS UM DESSES ROMANCES QUE NÃO DÃO EM NADA!

- Pois é! A gente, infelizmente, não faz a vida do jeito que a gente quer. Foi assim que acabou aquele reencontro. Um dia foram noivos, prometidos um ao outro, foram moleques brincando juntos, afilhad

Post: Blog2_Post
bottom of page