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  • Foto do escritorJuliana da Paz

Nós, naturalmente!

Era madrugada e o sono não vinha. Uma dor que me apertava as têmporas, o esternocleidomastoideo e todas essas nomenclaturas de músculos que compõem as costas e o pescoço, subindo ouvidos e cabeça acima. Esses que são conteúdos escolares, mas não fazemos questão de conhecer de verdade até que doam.


A vida, enfim, doía! A vida enclausurada, suada de dentro da estufa quente que cultivamos. Planta a planta de prédios cimentados e azulejados, todos com jeitinho de banheiro de ‘shopping’… LIMPOS! Desinfetados. Nós. Esse monte de banheiro ambulante, com cara de azulejo… Desinfecção expressa da maior sujeira, banheiros.


Fui à varanda e notei que, na madrugada, ela é linda. Não ela mesma, mas a altura que ela me proporciona, vi todos os vitros do bairro, muitos acordados em acesas lâmpadas, como eu, atuando no automático do clic do ininterruptor, ou do celular, ou dos notebooks, ou de qualquer outro desses aparelhos com nome em inglês. Odeio nossa incapacidade de recusar palavras não nossas, que vontade de chamar aquilo de “caderno com teclas”.


Minhas divagações não param, nem a dor.


Suspiros que enchem o corpo de um oxigênio de uma cidade de carros parados surpreendem meus pulmões. Fico mais feliz assim… Mas tenho um carro flex na garagem. Posso poluir com álcool ou gasolina, o que for menos custoso ao meu bolso.


Talvez, toda essa preocupação com a segurança e a economia me faça, agora nesta madrugada, de excelente temperatura, não conseguir enxergar as estrelas, ao invés dos vitros acesos. Mas a lua está lá. Nesta noite só uma lasquinha dela, parece que me avisando… “Estou indo para longe, viu?”


Meu corpo, setenta (porcento) água – mais um conteúdo escolar inútil em nosso cotidiano – reage, assim como as marés, ao poder da luz do sol, no satélite refletido. Penso como uma professora, não consigo parar.


Sinto então… Divago com ela terapeuticamente sobre dores de todo tipo e ela me manda deitar na rede da varanda.


Suspensa na madrugada por dois ganchos de ferro parafusados em uma parede de concreto, me faço as últimas perguntas conscientes: “essa gana de mandar, se apoderar e possuir aquilo de que somos parte, naturalizou-se quando em nosso proceder diário?”.


A dor adormece comigo. O Sol me acorda. Eu agradecida à lua, por me lembrar que infelizmente, somos nós microcosmos, como qualquer outro nascido na natureza, maravilhosos e muito ruins, naturalmente!


Juliana da Paz

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